Ainda era pequeno quando iniciei na escolinha de basquetebol do meu colégio. Era um grandalhão em meio aos outros garotos, tanto na vertical quanto para os lados.
Bati muita bola lá, mas foi na quadra da rua que realmente aprendi o sentido daquele esporte. Comecei arriscando meus arremessos contra senhores de mais de 50 anos, técnicos, porém que não gozavam mais do vigor da força física de tempos atrás. Ali aprendi a jogar sem correr, usando o jogo coletivo por meio do passe.
Passado alguns meses, fui vendo que meus chutes estavam cada vez mais afiados e a esfera começava a entrar com mais facilidade.
Resolvi, então, que deveria buscar um novo desafio e lá fui eu em meio aos caras grandes, não mais os senhores, mas a mocidade do aterro.
Demorou pra pegar o ritmo de jogo. Recebi muito xingamento, ironia e humilhações, entretanto a negatividade das manhãs de domingo foi transformada em força de vontade.
Minha atividade física, que antes era jogada por diversão virou obsessão. Não aceitava um arremesso errado. As bolas de três deveriam ser redondas, os dribles desconcertantes e o fôlego em dia. Queria chegar no meio daqueles caras e conseguir o respeito que achava necessário. Para isso comecei a bater bola todos os dias, 4 horas.
O Fluminense e meu colégio eram meus centros de treinamento e lá buscava a perfeição, seja nos treinos, no recreio ou após a escolinha, quando batia bola no ginásio, em meio a uma escuridão apenas iluminada pelas frestas da parede, por onde a lua entrava na quadra e formava minha dupla favorita. Era a bola, a cesta, a lua e eu. Sozinhos.
Nos fins de semana o ritmo aumentava. Acordava às 6h da manhã, engolia meus cereais matinais e rumava às quadras do aterro. Diversas vezes era o primeiro jogador a estar lá. Gostava disso, pois quando a rapaziada chegava eu já estava ''quente''. De lá saia umas 14h, apenas para almoçar, ver meu tricolor e descansar. Todavia, quando o sol começava a se pôr, lá ia eu para as quadras novamente. A temperatura já era mais amena e isso facilitava, pois o desgaste era menor. Além disso, o desafio de jogar com os caras da noite fazia com que cada partida fosse o jogo da minha vida. Eu, garoto de 14 ou 15 anos, batendo bola com uns gigantes de 2 metros e lá vai fumaça ou pequenos, porém habilidosos, armadores. Tinha dias que nem jogava, ia só pra assistir, ver o que podia sugar dali para colocar no meu jogo.
O tempo foi passando e eu emagrecendo. Fiquei magrinho. Magro demais por sinal. Consegui jogar as peladas noturnas, onde tentava crescer a cada dia, entrar em um clube, ganhar a garota que tanto almejava no colégio e, por fim, usar o basquete como válvula de escape nos momentos mais complicados. E esses, como na vida de qualquer pessoa, são muitos.
O problema de meu pai, a perda de pessoas queridas, as decepções e os problemas do dia a dia eram todos esquecidos quando entrava naquela quadra. Bater bola me fazia esquecer do mundo lá fora e entrar em um outro, onde a felicidade era baseada em chuás, jogadas e tocos.
O relógio da vida passava e eu ia mudando minha personalidade, meus gostos e minhas metas. Ia aos poucos tendo novas conquistas, novas derrotas e, o mais importante, novos aprendizados.
Hoje, não busco mais a perfeição de tempos atrás, até porque tenho outros objetivos, como entrar na desejada faculdade de direito para poder um dia ajudar esta sociedade carente de justiça e honestidade.
Porém, nos momentos em que preciso descansar a cabeça, a solução continua sendo a mesma. Pego minha querida e já velhinha bola e caminho até meu mundo imaginário. Lá começo a pensar o quanto passei para estar naquele nível, o que aprendi e ganhei. As felicidades que aquele esporte me trouxe.
Volto pra casa exausto, já que meu preparo físico já não é como o de antes, mas com a mente em perfeita paz e com a esperança de que poderei sim vencer novos obstáculos como já fiz um dia.
Como diria meu antigo técnico, com quem aprendi bastante, mas que não ia muito com a minha cara:
''Culhões, Panco! Culhões! E vai atrás da bola. ''
''Sempre, senhor. Sempre.''
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