Sá Sabiá

Sá Sabiá

Em uma dessas noites frias, estava navegando pela internet, quando resolvi virar o mastro em direção ao maior porto de vídeos de tal oceano: Youtube.

Entrei e logo procurei por um sambinha, afinal, tal ritmo, filho de africanos, alegra das colombinas aos defuntos seculares.

Ah, nada melhor que uma intérprete!

Queria uma onda sonora doce, que formasse um invejável dueto com flautas suaves. Estes, leves, contrastariam, então, com as batidas fortes das mãos dos percussionistas e o dedilhado detalhista de violas de madeira oca. Cavaco ou um 7 cordas, talvez?

Minutos e minutos viajando pelas extensas águas que alí se encontravam e, enfim, cheguei a ''Pressentimento'', navio, este, comandado por Roberta Sá, nome ímpar na mpb.

Apertei o 'play' e o que se viu foi a perfeita harmonia. Musicalidade divina!

Roberta sá cortou o silêncio da noite com um timbre que faria as sabiás mais pomposas morrerem de inveja, flores nascerem pelos jardins e o sol raiar mais cedo, atravessando a madrugada para vê-la cantar.

E não é que os passarinhos da região escutaram-a e vieram curtir uma palhinha?

''Lá-lá-iá, láiá, láiá...''.

Toc-Toc. Bateram na escotilha? Quem será? Um sabiá? Sim, senhor! Doutor Sabiá.

A melodia havia atraído-o para perto, talvez buscando um abrigo junto a capitã Sá.

Olhei espantado para o passarinho, que retribuiu, hipnotizado.

''Deve estar com fome. Vou pegar um pouco de alpiste com sementes de girassol''. A noite passava e a música ia invadindo as cercanias. Não sabia ao certo o segredo que ela guardava, todavia, o passarinho não se mexia. Deslumbrante.

De nada adiantou a comida, talvez ele quisesse se alimentar da música que ali soava. Parecia machucado, também. Tal sonoridade o curaria? Não sei. Mas lhe fez bem. Ao menos fez-lhe voar para longe, onde nem as asas poderiam levá-lo.

Termina a música e o transe.

A pequena ave segue seu destino rumo ao próximo pouso à felicidade. Ao menos, meu pressentimento.